12/01/08

EM MEMÓRIA DO JAIME

Estou triste!
O Jaime, o doente da cama 66, tinha a sua fotografia publicada na necrologia do Jornal de Notícias. A sua mãe e restante família anunciava a hora do seu funeral e chorava a perda do seu ente querido...coitado do Jaime, nestas últimas semanas foi tratado pior que um cão abandonado. Esteve no hospital e não recebia visitas e a roupa que vestia era do hospital. Ele perguntava quando ia para casa da mãe. Mas no dia que os médicos lhe deram alta, a equipa de enfermagem contactou a família e o transporte foi marcado para o fim do dia 31 de Dezembro. Eu, no dia 1 de Janeiro fui trabalhar de manhã e para meu espanto encontro o Jaime na mesma cama. Soube que não havia ninguém em casa para o receber, a mãe não lhe abriu a porta e os senhores do transporte de doentes regressaram com ele ao hospital. Durante essa manhã, o Jaime perguntou-me se ia nesse dia para casa...queria ir para casa. Claro que lhe expliquei que era feriado e não havia quem o levasse e talvez fosse no dia seguinte.
Mas o Jaime continuou na cama 66, a tomar banho e a vestir um daqueles pijamas do hospital. Foram mais uns dias e um dia disseram-me que finalmente tinha sido transferido para uma unidade de saúde lá para os lados de Baião. Fiquei contente com a notícia, porque dada a idade da mãe do Jaime seria talvez melhor ele ir para um sítio onde o apoio não lhe faltaria.
Ontem fiquei triste, muito triste quando vi a sua fotografia no jornal. O Jaime merecia mais carinho, mais ternura e afecto. Os homens e mulheres que trabalharam ou trabalham na Associação de Ourives talvez se lembrem do contínuo chamado Jaime. Quanto à sua mãe, dona de casa, ao seu irmão, arquitecto, não tenho tantas certezas. Triste, triste é mesmo morrer abandonado.Nem um cão merece morrer assim!

1 comentário:

Carla Teixeira disse...

Mais do que triste é vergonhoso que haja "famílias" destas! Morrer é um acto solitário, talvez o mais solitário de todos os actos, mas a vida deveria ser sempre celebrada, e vivida em conjunto, em comunhão e naquela serenidade que só o amor e a atenção de quem amamos potencia. Nem um cão - nenhum cão, nenhum animal, nenhum ser humano - deveria ter um fim assim. A não ser, talvez, quem condenou o Jaime e tantos como ele a um fim assim. A revolta toma conta de qualquer pessoa que tenha coração num caso como este! Lá, onde está agora, o Jaime sabe que houve quem pensasse nele com carinho. Não por qualquer tipo de "obrigação" familiar, mas por genuíno carinho. E lá ele pode sorrir e encontrar a paz que aqui procurou em vão.