19/03/14

O ABSENTISMO TEM CURA ?





INTERESSA-ME O FUTURO
PORQUE É O LUGAR
ONDE VOU PASSAR
O RESTO DA MINHA VIDA

                     Woody Allen

      
    Os hospitais, dada a natureza das suas actividades, têm que funcionar nos 365 dias do ano e durante as 24 horas do dia. Nestas instituições os horários de trabalho são diversos: horários flexíveis, horários rígidos, horários desfasados, horários de jornada por turnos e horários de jornadas contínuas.
   O trabalho por turnos é a modalidade de horário mais praticada. Os enfermeiros são o grupo de profissionais que mais cumprem. Já os que mais faltam ao trabalho são os Assistentes Operacionais. E a alta taxa de absentismo destes trabalhadores tem tendência a continuar a aumentar. As ausências no trabalho dos Assistentes Operacionais, ao contrário de outros profissionais de saúde, são logo notadas, pois a falta de algum elemento na equipa é imediatamente detectada pelos colegas que estão a terminar o seu turno e também pelos colegas que vão iniciar o seu trabalho.
   O absentismo é portanto uma realidade e a sua existência traz algumas consequências menos boas para as instituições de saúde, para os trabalhadores que estão a trabalhar e também para os que praticam o absentismo. A ausência das pessoas do seus locais de trabalho estão principalmente relacionadas com problemas de saúde. Mas há "absentistas praticantes" que se apoiam noutras justificações e estão literalmente a borrifarem-se para os seus superiores hierárquicos, bem com os seus colegas de trabalho. Também as faltas ao trabalho estão muitas vezes relacionadas com as atitudes e comportamentos assumidos pelos "chefes" e suas respectivas cúpulas. Por vezes, uma incorrecta integração, a ausência de motivação o aliado a uma falta de sentimento de pertença à instituição onde se trabalha, pode servir para que uma pessoa opte pelo absentismo.
   O elevado número de absentismo dos Assistentes Operacionais deve merecer uma maior atenção por parte dos seus superiores. Olhar com atenção e mostrar interesse em encontrar uma solução justa é o mínimo que alguém pode pedir. As doenças, os acidentes de trabalho, as licenças de maternidade/paternidade são algumas das justificações dos assistentes operacionais para faltar ao seu trabalho. Serão só estas? Tenho a certeza que há outras razões para tanto absentismo. As faltas ao trabalho são um problema e contribuem para uma desregulamentação dos horários de trabalho. Quando um trabalhador falta ao trabalho coloca em causa o normal funcionamento de determinado serviço e nem sempre a instituição está preparada para prever estas situações. Mas talvez não fosse descabida a ideia de em certos e determinados serviços de saúde, fosse criada uma "reserva" pelas instituições para em pouco tempo efectuarem as substituições necessárias. Claro que isto traz custos, mas também não podemos esquecer as consequências e os custos, tanto para a instituição como para os trabalhadores, terem que aguentar mais horas de trabalho.
   Os assistentes operacionais da área da saúde têm funções extremamente diversificadas e todas elas importantes em termos do bom e normal funcionamento da instituição onde trabalham. O trabalho destes trabalhadores e o clima do local onde executam as suas tarefas, merecem por parte das  administrações hospitalares e das suas chefias mais próximas a tomada de atitudes de apoio, incentivo, motivação e reconhecimento do valor que realmente têm.
   O absentismo combate-se com melhorias na organização do trabalho, na melhoria dos horários de trabalho, na melhoria do clima de trabalho, na melhoria da sua formação. O bom exemplo deve vir dos seus superiores hierárquicos que devem manifestar mais apreço, mais estímulo, mais confiança no grupo de trabalho.

16/03/14

CONTRA CORRENTE


Antes era a falta de Assistentes Operacionais, agora é a entrada ao serviço de pessoal vindo dos Centros de Emprego que exercem as mesmas funções, só de segunda a sexta-feira e a maioria só trabalham os turnos da manhã. Ora o que está a acontecer nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde é que os turnos de trabalho sejam de 12 horas contínuas, maior número de trabalho nocturno ( noites ) com a acumulação de dias de trabalho sem as respectivas folgas ou descansos, havendo pessoas que só 13 dias depois é que têm dia de folga ou descanso ( ou ainda pior). Se a estas condições de trabalho juntarmos as médias de idades que estão entre os 45 e 55 anos de idade, num trabalho que exige esforço físico e psicológico, está encontrada uma das principais razões do grande número de baixas médicas como nunca se viu, complicando o normal funcionamento dos serviços de saúde.
   Já trabalho há uns anos como Assistente Operacional e nunca imaginei viver uma situação assim. Como se organizam os Recursos Humanos dos hospitais? É normal e comum um Assistente Operacional receber atempadamente o seu horário de trabalho e organize a sua vida pessoal, familiar e social tendo em consideração os turnos desse horário que lhe foi entregue. Mas já não é normal chegar ao fim do seu turno de trabalho e não poder dar cumprimento aos compromissos e obrigações entretanto assumidas com a família, com os amigos, com actividades de desporto e lazer, com acompanhar os seus filhos...porque um colega está de baixa há 1 ano, ou 4 dias, porque aquele ou aquela não trabalha à tarde, nem aos fins de semana...e ainda é capaz de ouvir frases deste género “Tem que seguir”. “Não adianta reclamar”. “Vejam lá, têm contrato assinado com o hospital!”
  Afinal vivemos onde? Por um lado fala-se que há trabalhadores há mais nas empresas públicas, hospitais incluídos, mas um trabalhador tem que assegurar turnos de 12 horas seguidas e ao mesmo não lhe permitem que trabalhe mais uma hora por turno? Com o aumento de uma hora por cada turno de trabalho acabariam aquilo a que alguém um dia adormeceu e acordou com a ideia de que se pusesse os trabalhadores a trabalhar Manhã e Tarde seguido chamar-lhe-ia “Carga Horária”. E não é que a ideia pegou e é a realidade vivida por muitos Assistentes Operacionais? E olhando bem, estão a conseguir que um trabalhador faça o trabalho de dois. Grande ideia, mas esqueceram as Leis do Trabalho, os direitos das pessoas ao trabalho e a uma vida pessoal, familiar e social fora do local de trabalho. Mais: como estes profissionais trabalham muitas horas seguidas, não gozam os descansos devidos, aumentam os acidentes de trabalho, por quedas, dores musculares, dores na coluna, dores nas costas, dores nos joelhos, tendinites nos pulsos e mãos, noites mal dormidas, mais discussões com colegas e em casa. Isto é mau, mas pior é quando o profissional altera o seu “espírito de trabalho” quando um utente ( doente ou não ) solicita a sua ajuda. O mesmo acontece quando outros profissionais ( enfermeiros, médicos...) se dirigem a estes profissionais e mais uma vez o Assistente Operacional toma atitudes imprórias e inesperadas, porque o cansaço o dominou.
   Quem, no fim de contas, deixa de ganhar?
   É urgente mudar esta forma de trabalhar porque todos sairemos a ganhar.    
   Continuo a acreditar que é possível vivermos num mundo mais humano e que todos saiam a ganhar.


12/03/14

HORÁRIO DE TRABALHO



   No mundo do trabalho, seja ele de que tipo for, é necessário estar definido um horário para os trabalhadores de forma a garantir a estabilidade e a sustentabilidade da empresa ou instituição. Todos os funcionários, desde o porteiro ao presidente de administração, têm definido o seu horário de trabalho.
   Quando falamos de “carga horária”, no meu entender, refere-se ao número de horas que eu como trabalhador, trabalho por dia ou por semana. Eu para ganhar o meu salário tenho que cumprir o horário de trabalho. Como trabalhador, tenho o direito de não concordar com a carga horária que me é atribuída e tenho também o direito de manifestar essa minha insatisfação. Se eu, como trabalhador, sinto que a carga horária que me é exigida é superior aos limites impostos pela Lei do trabalho, eu devo dar conhecimento dessa mesma situação aos meus superiores.
   Acima de tudo, enquanto trabalhador tenho de ter a consciência que tenho que dar o meu melhor no dia a dia e aguardar o desempenho consciente por parte dos meus superiores hierárquicos ( encarregado geral e encarregado de sector ) e que me valorizem por isso.
   Os Assistentes Operacionais que trabalham no sector da saúde ( ex-Auxiliares de Acção Médica ), somos submetidos a dias de trabalho com muitas horas seguidas, chegando a trabalhar períodos de 12 horas contínuas, alguns até 18 horas. Durante as horas de trabalho, estes profissionais têm que executar diversas tarefas, onde o esforço físico e o convívio com a Vida e a Morte, a dor e a tristeza, o choro e as lágrimas originam um stress constante. Se a isto juntarmos, em muitos casos, edifícios antigos e inapropriados para trabalhar, horários completamente desregulamentados, as faltas dos assistentes operacionais causadas pelos acidentes de trabalho, doença ou outros motivos, julgo que qualquer pessoa mais tarde ou mais cedo se sente incapaz de dar o seu melhor.
   A elaboração de horários de trabalho adequados, conforme a Lei do trabalho recomenda, para além de ser um direito de qualquer trabalhador, contribuiriam para alterar estas situações vividas pelos Assistentes Operacionais.
   O STFPSN ( Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte ) denunciou em Fevereiro deste ano, algumas “ilegalidades” na elaboração dos horários de trabalho que muitos hospitais estão a praticar, nomeadamente os horários dos Assistentes Operacionais. Elaboraram um ofício e deram conhecimento das “ilegalidades” a várias entidades públicas:
Procurador Geral da República, Autoridade para as Condições do Trabalho, Administração Regional de Saúde.
   Nesse documento, o sindicato enumera entre outros problemas, o facto de “trabalhadores cujo intervalo de 11 horas entre as jornadas de trabalho não é respeitado e ainda de horários com mais de cinco dias consecutivos de trabalho”.
  Também lembram que não são respeitados os tempos máximos de trabalho semanal, nem o diário, há trabalhadores obrigados a cumprir horários de 12 e 14 horas de trabalho seguidas”.
  
O Sindicato lembra que desde a recente alteração e implementação das 40 horas semanais, a situação tem vindo a agravar-se. A juntar a isto lembro a recente entrada em funções de pessoas vindas dos Centros de Emprego, ao abrigo de estágios profissionais ou outras situações e que exercem as funções de assistentes operacionais, mas só de segunda a sexta-feira e nos turnos das manhãs e tardes. Como se isto não basta, os Assistentes Operacionais mais “velhos”(há anos que trabalham como tal ) têm que assegurar as noites, sábados, domingos, feriados e ainda com a imposição de assegurarem os turnos ininterruptos. Quando o trabalhador pergunta o porquê, recebe como resposta que “não há pessoal para assegurar o serviço aos fins de semana, domingos e feriados portanto o senhor/a tem que trabalhar Manhã e Tarde no sábado e/ou no domingo”.(Mais espantoso é que estes turnos aos fins de semana chamam-lhes “carga horária”, ou seja, são para completar o horário de trabalho semanal das 40 horas!!!)
  
Desde 2004 que exerço funções de Assistente Operacional. E desde sempre mostrei o meu desacordo com isto de chamar “carga horária” e obrigar o trabalhador a efectuar 12 horas de trabalho contínuo, tendo na véspera e no dia seguinte que voltar ao serviço.
  
Mas afinal em que país nós estamos? Trabalhar 12 horas seguidas e chamarem-lhe “carga horária” quando carga horária se refere às horas de trabalho semanal, que hoje está nas 40 horas semanais!
   A Lei determina que a jornada de trabalho diária deve ser de oito horas, podendo ir até mais 2 horas extra, não podendo ultrapassar as 10 horas dia. Onde se enquadram as 12 horas seguidas de trabalho? Não será uma forma de os “patrões” ao manterem o mesmo trabalhador a fazer o trabalho de dois pouparem uns trocos? E então onde ficam os direitos dos trabalhadores a possuir uma vida social e familiar para lá da entidade empregadora?
   Sei que o problema também está em que alguns trabalhadores, por conveniências diversas, até nem se importam de trabalhar, trabalhar e trabalhar até os encontrarmos cansados, esgotados e agarrados a uma canadiana, com o braço ao peito, nas sessões de fisioterapia e sei lá que mais.
   Eu não sou assim e continuo a pensar que todos têm direitos e deveres.