16/03/14

CONTRA CORRENTE


Antes era a falta de Assistentes Operacionais, agora é a entrada ao serviço de pessoal vindo dos Centros de Emprego que exercem as mesmas funções, só de segunda a sexta-feira e a maioria só trabalham os turnos da manhã. Ora o que está a acontecer nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde é que os turnos de trabalho sejam de 12 horas contínuas, maior número de trabalho nocturno ( noites ) com a acumulação de dias de trabalho sem as respectivas folgas ou descansos, havendo pessoas que só 13 dias depois é que têm dia de folga ou descanso ( ou ainda pior). Se a estas condições de trabalho juntarmos as médias de idades que estão entre os 45 e 55 anos de idade, num trabalho que exige esforço físico e psicológico, está encontrada uma das principais razões do grande número de baixas médicas como nunca se viu, complicando o normal funcionamento dos serviços de saúde.
   Já trabalho há uns anos como Assistente Operacional e nunca imaginei viver uma situação assim. Como se organizam os Recursos Humanos dos hospitais? É normal e comum um Assistente Operacional receber atempadamente o seu horário de trabalho e organize a sua vida pessoal, familiar e social tendo em consideração os turnos desse horário que lhe foi entregue. Mas já não é normal chegar ao fim do seu turno de trabalho e não poder dar cumprimento aos compromissos e obrigações entretanto assumidas com a família, com os amigos, com actividades de desporto e lazer, com acompanhar os seus filhos...porque um colega está de baixa há 1 ano, ou 4 dias, porque aquele ou aquela não trabalha à tarde, nem aos fins de semana...e ainda é capaz de ouvir frases deste género “Tem que seguir”. “Não adianta reclamar”. “Vejam lá, têm contrato assinado com o hospital!”
  Afinal vivemos onde? Por um lado fala-se que há trabalhadores há mais nas empresas públicas, hospitais incluídos, mas um trabalhador tem que assegurar turnos de 12 horas seguidas e ao mesmo não lhe permitem que trabalhe mais uma hora por turno? Com o aumento de uma hora por cada turno de trabalho acabariam aquilo a que alguém um dia adormeceu e acordou com a ideia de que se pusesse os trabalhadores a trabalhar Manhã e Tarde seguido chamar-lhe-ia “Carga Horária”. E não é que a ideia pegou e é a realidade vivida por muitos Assistentes Operacionais? E olhando bem, estão a conseguir que um trabalhador faça o trabalho de dois. Grande ideia, mas esqueceram as Leis do Trabalho, os direitos das pessoas ao trabalho e a uma vida pessoal, familiar e social fora do local de trabalho. Mais: como estes profissionais trabalham muitas horas seguidas, não gozam os descansos devidos, aumentam os acidentes de trabalho, por quedas, dores musculares, dores na coluna, dores nas costas, dores nos joelhos, tendinites nos pulsos e mãos, noites mal dormidas, mais discussões com colegas e em casa. Isto é mau, mas pior é quando o profissional altera o seu “espírito de trabalho” quando um utente ( doente ou não ) solicita a sua ajuda. O mesmo acontece quando outros profissionais ( enfermeiros, médicos...) se dirigem a estes profissionais e mais uma vez o Assistente Operacional toma atitudes imprórias e inesperadas, porque o cansaço o dominou.
   Quem, no fim de contas, deixa de ganhar?
   É urgente mudar esta forma de trabalhar porque todos sairemos a ganhar.    
   Continuo a acreditar que é possível vivermos num mundo mais humano e que todos saiam a ganhar.


1 comentário:

Andrea disse...

Bom dia.
Fiquei com a dúvida sobre como funciona isto com o centro de emprego. Eu estou interessada em fazer a formação que o centro de emprego oferece, mas não sei se é uma boa ideia. Eu não tenho conseguido aceder ao ensino superior porque não consegui convalidar o meu curso já que não há vagas para medicina por transferência. Estou numa situação frustrante e não sei se este curso é uma opção. Agradeço a sua resposta