17/01/09

A SURPRESA DA NOITE




Viver a vida que não pedimos para viver, é a finalidade de todo o ser humano. Também sou dos que acredito que durante a nossa vida somos muitas vezes apanhados de surpresa. E algumas dessas surpresas nunca estamos preparados para as viver.

Fazemos planos para viajar e visitar a família, os amigos, enchemos o depósito do automóvel pois a viagem vai ser longa.Está tudo pronto para a viagem. Agora, mesmo sendo noite de Natal, há gente no hospital a quem eu tenho de atender, ouvir e ajudar a viver melhor esta noite Santa.

Duas horas depois de começar a trabalhar, o meu telemóvel toca. Atendo e ouço do outro lado isto:

"João, a tua mãe foi-se" ouvindo de seguida um choro sentido.

Foi a surpresa daquela noite. Foi a minha primeira grande surpresa.

Inesperado? Para mim, talvez sim, mas não para a minha mãe. Ela sempre me surpreendeu durante a sua vida.Lá, do lugar onde ela vive agora, continua a surpreender e a marcar aqueles que a conheceram.

A vida dos auxiliares de acção médica é por vezes cheia de incompreensões, de más interpretações e algumas vezes somos escravos dos nossos horários. Outras vezes, mesmo desejando e pedindo alterações, de nada nos vale o esforço e fica tudo como está. E por vezes, somos surpreendidos por 4 dias de descanso ou de feriados ou de tolerâncias que não pedimos...e só temos que compreender as interpretações dos que dizem mandar.

A vida do Auxiliar de Acção Médica é cheia de surpresas, como a de toda a gente.

15/01/09

ONDE ESTÁ A FAMÍLIA?

Há pessoas, doentes, que entram nos hospitais e demoram a sair. Quando escrevo “demoram a sair” refiro-me aos doentes mais idosos, que quando estão prestes a ter “alta” médica a família pura e simplesmente os abandona ou então esquecem-se que essa pessoa necessita de apoio, de ajuda, de atenção dos seus, dos amigos e a continuar a receber apoio médico e de ajudas técnicas.

Isto é uma realidade que acontece nos serviços de internamento dos hospitais portugueses e que muitos portugueses desconhecem. Não se trata de as famílias não possuírem condições económicas, porque estes casos, por incrível que possa parecer, surgem mais naquelas famílias com algumas posses ou com boa condição económica. E como abandonam eles os familiares? Claro que vão lá todos os dias visitar o(a) doente. O que não querem e inventam tudo para que a pessoa lá continue, desculpando-se com a não existência de sítio para o receber e tratar.

O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Padre Lino Maia, revela que cada vez mais estão a receber pedidos de ajuda para lidar com esta realidade.

Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, admite que os médicos estão a ser pressionados pelas administrações dos respectivos hospitais para economizar os gastos e para libertar as camas que os idosos estão a ocupar.

Não há estatísticas, não se fala nos jornais ou nas televisões deste drama, deste flagelo. Mas é uma realidade que eu como Auxiliar de Acção Médica assisto no meu local de trabalho e por todo o hospital.